História e Jogos

A Primeira Guerra Mundial


O ESTOPIM

É em Sarajevo, atual capital da Bósnia-Herzegovina, que terroristas sérvios assassinam Franz Ferdinand e sua esposa Sophia em 28 de junho de 1914. Um mês depois, o Império Austro-Húngaro declararia guerra à Sérvia, dando início à Primeira Guerra Mundial!

Como a Primeira Guerra Mundial Começou?

Vocês perceberam que eu não coloquei como pergunta a expressão ‘Por que a Primeira Guerra começou?’ ou ‘Quais as causas da Primeira Guerra?’. Talvez eu não tenha essa resposta. Posso dizer que foi a corrida armamentista que causou o conflito, mas veremos mais tarde que não havia uma ‘corrida armamentista’ acontecendo, de fato. Também o ímpeto imperialista, mas o mercado financeiro ficou apavorado com a ideia de guerra; na verdade, não usarei isso apenas por não corroborar com o determinismo econômico, por agora. Apesar de Niall Ferguson, em seu livro O Horror da Guerra, praticamente ter mandado colocarmos no lixo o viés imperialista/capitalista como agente motivador do conflito, ele falha ao abordar apenas os grandes burgueses como imperialistas. Sabemos que são as nações e suas estruturas que impõem essa condição. Mas e o nacionalismo? Talvez tenha sido ele o verdadeiro responsável pelo início do conflito? Mas somente os sentimentos nacionalistas exacerbados não seriam o suficiente; tinha muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Então, vamos só entender COMO tudo isso começou.

O Assassinato

Sarajevo – 28 de junho de 1914

Franz Ferdinand e sua esposa Sophia Chotek chegavam de trem a Sarajevo, embarcando em um automóvel conversível, modelo 1911 Gräf & Stift 28/32 PS. Da estação, eles partiriam para a prefeitura através da avenida Appel Quay, em um comboio de seis veículos. A escolha do dia para esse passeio não foi a melhor, pois nesta data era o dia de São Vito – uma data que representava para o povo sérvio a derrota para os otomanos em 1389 e a perda de Kosovo. Acontece que essa era a primeira vez que os sérvios poderiam comemorar a data, pois haviam reconquistado a região dos otomanos no ano anterior. Para os ultra-nacionalistas sérvios, a chegada de um herdeiro austro-húngaro a um território que os sérvios consideravam seu era uma grande afronta.

A organização ultra-nacionalista/terrorista sérvia conhecida como Mão Negra havia enviado sete terroristas para Sarajevo. O objetivo era assassinar o arquiduque Franz Ferdinand. Eles levavam consigo cinco bombas do tamanho de um sabonete com um detonador e fuso químico de 12 segundos. Junto com as bombas, carregavam revólveres e cianureto em pó – se alguém fosse pego, teria o suicídio como fuga. Dentre os sete integrantes, três eram amigos bósnios que estudaram em Sarajevo, se radicalizaram no ultra-nacionalismo sérvio e entraram para a organização. Eles eram Grabrez, Cabrinovic e Princip. O mais famoso seria Gravilo Princip, que com 19 anos, era magro, tuberculoso, mas obteve os melhores resultados de tiro em seu treinamento na Sérvia. (CLARK, 2014, Pág. 83)

O casal estava despreocupado com sua segurança, afinal de contas, já estavam hospedados em Ilidze há três dias e haviam visitado Sarajevo sem serem incomodados. Mal sabiam eles que Gravilo Princip os acompanhava à distância nesses dias. Ah, o dia do atentado também era o dia do aniversário de casamento de Franz e Sophia. Este já havia declarado seu amor por Sophia inúmeras vezes, assim como o amor por seus filhos.

Durante o trajeto pela cidade, na ponte Cumurija, um dos terroristas (Megmedbasic) desistiu de lançar a bomba, deixando os carros passarem. Em seguida, outro terrorista (Cabrinovic) lançou a bomba quando eles saíam da ponte, porém a bomba caiu atrás do veículo, explodindo no carro que vinha atrás, ferindo seus ocupantes e abrindo um buraco no carro. Não sabemos se a bomba bateu na capota aberta ou se Franz Ferdinand rebateu com as próprias mãos. Naquele momento, o arquiduque reagiu de maneira fria e racional, ordenando o cuidado aos feridos e o prosseguimento do comboio para a prefeitura. De lá, ele retornaria pela Appel Quay e visitaria os feridos no hospital. Cabrinovic abriu seu envelope de cianureto e se jogou no rio, porém, o cianureto só machucou seu estômago e o rio estava em um nível baixo. Ele foi encontrado metros depois numa bancada de areia.

O comboio prosseguia e passava por outros dois terroristas pelo caminho, sendo que ambos não tiveram coragem para fazer alguma coisa. Um deles, Popovic, atirou para o alto e escondeu a bomba próximo ao porão da associação cultural sérvia. Neste momento, Princip avistou seu amigo sendo carregado, agonizando devido ao veneno, e pensou em ir atirar nele para acabar com o sofrimento, porém o grande número de populares ao redor o impediu. Seu outro parceiro, Grabez, afirmou não ter conseguido tirar a bomba do seu bolso, pois havia muitas pessoas ao seu redor.

E assim Franz Ferdinand (Francisco Ferdinando) chegou à prefeitura. Nervoso, o prefeito fez um discurso de boas-vindas, mas foi repreendido pelo arquiduque, que logo se recompôs e agradeceu por ter sentido o carinho do povo local, apesar do atentado. Após os compromissos na prefeitura, o arquiduque começava a mostrar sinais de nervosismo e questionou sobre os perigos do caminho de volta. Ficou decidido que ambos seguiriam pela Appel Quay, ao invés da Franz Joseph, como era previsto. Sophie decidiu ir junto com Franz para visitar os feridos no hospital, e o conde Harrach ficaria em cima do estribo esquerdo do carro, como precaução a um possível atentado.

O comboio seguiu, porém esqueceram de avisar o motorista da mudança de itinerário. Quando ele entrou na Franz Joseph, o então general e governador da Bósnia, Potiorek, avisou o motorista: “Não é por esse caminho! Tínhamos que ir pela Appel Quay!” O carro começou a ser manobrado manualmente (ele não tinha marcha ré) e nesse meio tempo, Gravilo Princip (que esperava o comboio na Franz Joseph) percebeu a movimentação e foi diretamente em direção ao carro. Ao não conseguir desvencilhar sua bomba devido ao nervosismo, ele sacou seu revólver e disparou duas vezes à queima-roupa no casal – Harrach estava do lado esquerdo, no lado oposto, e nada pôde fazer. Na hora, ninguém entendeu que os tiros foram mortais, pois Franz e Sophie ficaram imóveis e eretos no banco traseiro. A verdade é que ambos estavam morrendo: a bala atravessou o abdome da duquesa, perfurando uma artéria gástrica, enquanto a segunda atingiu o pescoço de Franz Ferdinand, rompendo sua jugular. O carro partiu em retirada e durante o caminho Sophie desfaleceu. Nesse momento, Harrach escutou a famosa frase de Franz Ferdinand: “Sophie, Sophie, não morra, fique viva, pelos nossos filhos!” Logo depois ele perdeu a consciência. O casal foi levado ao palácio Konak, mas não havia mais nada a fazer. Aconteceu assim o estopim que levaria à Primeira Guerra Mundial.

Gavrilo Princip atira no Arquiduque Franz Ferdinand e em sua esposa. (Ilustração recriada por Achille Beltrame no jornal italiano La Domenica del Corriere em 12 de julho de 1914), porém, Franz Ferdinand estava sentado atrás à esquerda, e sua esposa, do lado direito.

As alianças

Muitos sabem que a Primeira Guerra Mundial desencadeou um jogo de alianças, que dispostas no mapa demonstram duas concentrações, chamadas de Tríplices. A Aliança composta por Áustria-Hungria, Alemanha e Itália e a Entente, composta por França, Rússia e Reino Unido. De antemão, já aviso que a Itália não respeitou o tratado e outras nações entraram em ambos os lados do conflito após as declarações de julho e agosto de 1914. Porém, convém esclarecermos como estavam as relações entre esses países antes da guerra começar.