O Imperialismo

Os Impérios na História

Atualmente, nós temos 206 Estados Soberanos, destes, 43 são monarquias e destas, apenas uma se configura como um Império, neste caso, o Império do Japão. Porém, dentro do nosso imaginário, o Império ainda está muito presente, seja através dos produtos da Indústria Cultural, ou através da própria História, ou você nunca ouviu falar do Império Romano, Império Mongol ou do Império do Brasil?

Desta maneira, vou definir o conceito de império desta maneira. O Império é “quase sempre” uma monarquia que possui um grande território, exercendo sua soberania sobre diversos povos, culturas e nações, obtendo recursos econômicos para o centro do poder a partir de um sistema administrativo, de transporte e comunicação. Este Império deve ser capaz de exercer a estabilidade interna e externa através da força e o seu poder é legitimado a partir de valores universais, geralmente ligados à religião, tendo também uma capacidade de assimilação para absorver e integrar ao menos uma parte dos dominados à sua nova ordem.

Os Impérios são uma constante na História, nós temos durante a Antiguidade e a Idade Média o desenvolvimento de grandes Impérios, como o Persa, o Macedônico, o Romano e o Mongol. Estes impérios eram bem diversos, mas tinham especificidades como a exploração dos povos de forma bem direta, através da cobrança de impostos, tributos e escravização dos vencidos. Na Idade Moderna, os impérios contíguos continuavam a existir, como o Império Russo e o Otomano, porém, um novo comércio marítimo permitia uma nova forma de Império, baseado num sistema colonial. Desta maneira nós temos uma metrópole na Europa e uma colônia na América, no que conhecemos como sistema colonial. Os primeiros impérios a surgirem desta forma foram Portugal e Espanha, seguidos da Holanda, França e Inglaterra. Estes dois últimos disputariam o controle dos mares, sendo que os ingleses seriam os vencedores após a derrota de Napoleão em 1815. A partir daí restariam o Império Britânico e o Russo como grandes potências da Europa, e o debate sobre colonialismo e anticolonialismo, liberalismo ou protecionismo econômico ganharia espaço.

O conceito de Imperialismo

A partir da metade do século XIX nós observamos transformações importantes no mundo político econômico e social. A Segunda Revolução Industrial aumentou a produção, a competição, mas diminuiu as taxas de lucro, trazendo fim ao liberalismo econômico em razão do protecionismo econômico. O Estado-Nação, um modelo fortalecido pelo nacionalismo, protegia seus mercados e buscava expandir seus domínios, desta maneira, há um retorno da expansão colonial, porém com o objetivo de expandir sua produção, taxas de lucros e restringir a entrada de mercados concorrentes nestes novos domínios. A democracia liberal instigava o cidadão a participar da política, a imprensa propagandeava a expansão para outras regiões e crescia um forte sentimento de responsabilidade em levar a civilização para outras regiões do planeta. Pronto, o imperialismo tornava-se uma política de Estado apoiada pela burguesia e pelo cidadão, o que na visão de Lênin por exemplo, seria o estágio superior do capitalismo.

É no sistema capitalista que nós vamos perceber o conceito de imperialismo, como nos traz Bertonha (2022, pág.43);

[…] o imperialismo no sentido que o termo assumiu a partir do final do século XIX (controle direto ou indireto de um território externo a partir de uma noção de benefício econômico e justificado por uma ideologia específica). […] Como expressão da modernidade (o capitalismo industrial, a democracia liberal, o nacionalismo), os novos imperialismos reorganizaram o mundo a sua imagem e se espalharam por toda a Terra.

E desta maneira, em 1914, nós tínhamos 80% do planeta sobre controle de países da Europa, dos EUA e do Japão.

Os tipos de Imperialismo

O Imperialismo Direto – Cooptação e Repressão

Se durante a conquista das américas, os impérios europeus tinham vantagens tecnológicas sobre os nativos, foi a exploração dos ressentimentos dos povos locais e as doenças que permitiram a derrota dos impérios locais, como os dos astecas e incas. Nas conquistas do final do século XIX, a tecnologia era sim o ponto predominante. Havia uma grande corrida armamentista, o que elevava o poderio bélico das nações industrializadas. As novas armas e a poderosa marinha desses impérios, permitia a vitória sobre as nações mais frágeis com o uso de pouquíssimos homens.

Era um processo de vitória militar, cooptação das elites locais para o próprio controle territorial e recrutamento dos locais para a administração e manutenção da ordem. Mantendo, é claro, uma ideia de inferioridade dos povos conquistados, afinal de contas, predominava as ideias baseadas no racismo científico (conforme o texto anterior). A repressão era sempre necessária, pois após a conquista, iniciava-se o processo de exploração colonial e os choques culturais e religiosos, levando ao permanente uso da força.

O Imperialismo Direto – Colônias de Povoamento

O chamado colonialismo demográfico é a eliminação total ou parcial da população de um determinado território (de clima semelhante a metrópole e com uma população reduzida) para a substituição por colonos. Essa colonização poderia atender a interesses de exploração econômica, como a tomada das terras férteis, de expansão do Estado-Nação e até mesmo para desestimular a emigração criando uma expansão interna das riquezas através da migração interna, assim como alterar o equilíbrio étnico e territorial entre variados grupos.

A emigração de populações europeias para a América do Sul estimulava a pretensão imperial de algumas nações, como a Itália e a Alemanha que sonhavam na criação de maiorias demográficas e hegemonias políticas que permitissem a criação de impérios no Brasil e na Argentina.

O Imperialismo Indireto – Comércio, Serviços Financeiros e Cultura

O imperialismo indireto teve diversas formas, como a emigração e difusão cultural que estreitava laços comerciais e financeiros, a ênfase no capital financeiro, onde alguns empréstimos bancários a nações menores permitiam certo controle da economia destes países, e as dívidas se tornaram objeto de submissão de povos e nações. Na era dos imperialismos, estacionar uma frota próxima a capital para pressionar o pagamento de uma dívida ou tratados comerciais vantajosos era uma prática bastante comum. A diferença é que este imperialismo indireto permitia que a independência política e formal de certos países fosse reconhecida, ao mesmo tempo que se mantinha a subordinação comercial, financeira e até mesmo cultural, ainda que sem a anexação e o controle formalizado.

As Potências Imperialistas

Em 1914, para exemplificarmos, o imperialismo já havia tomado o controle de 100% da Oceania, 90,4% da África, 56,5% da Ásia e 27,2% do território da América. Isso sem contar o controle indireto nos quais sofriam outros impérios como o Otomano, o Chinês e até mesmo o brasileiro.

O Império Britânico

Entre o final do século XIX e início do século XX, o Império Britânico foi provavelmente o maior da História. Em seu auge, o Império Britânico tinha território em todos os continentes e exercia seu poder hegemônico em boa parte do planeta. Mais de 25% do território mundial estava sob o seu controle. Na Índia, estava grande parte da lucratividade imperialista britânica, lá, 900 funcionários públicos e 70 mil soldados britânicos conseguiam controlar uma população com mais de 250 milhões de pessoas.

Os britânicos sabiam da importância da Índia, por isso, havia uma grande segurança da rota marítima para a região através da supremacia naval e de uma rede de bases navais em Gibraltar, Malta, Chipre, Egito, Áden, Cidade do Cabo e Alexandria, além disso, uma grande rede de cabos de telégrafos. A Índia era um mercado importante para a indústria têxtil da Inglaterra, pois absorvia metade da sua produção mantendo uma balança positiva em relação a região. Os impostos arrecadados permitiam o controle administrativo da colônia e ainda traziam superávit. Além disso, o exército indiano era uma ferramenta importante para a dominação britânica na Ásia, no Oriente Médio e na África Oriental. Em 1866, por exemplo, o exército indiano foi enviado para derrotar o imperador Teodoro da Abissínia, Etiópia.

Foi a partir da rebelião indiana de 1848 que o governo da rainha Vitória passou a interceder com mais força na política do exterior. Quem controlava o monopólio do comércio com a Índia no período era a Companhia das Índias Orientais, um empreendimento privado que havia tido início lá na época das navegações europeias. A Companhia havia enfraquecido devido aos princípios liberais britânicos e com isso, há uma retomada do mercado indiano através do domínio do governo britânico e eliminação da concorrência local. Os britânicos achavam que faziam um bem para a Índia, alguns ainda acham que a colonização foi positiva, como Niall Ferguson que aponta a baixa “drenagem” dos recursos locais para a metrópole em comparação aos holandeses e franceses, assim como valoriza os grandes investimentos em infraestrutura, como por exemplo, a quantidade de terra irrigada no Raj e a indústria do carvão que em 1914 produzia 14 milhões de toneladas por ano. Ferguson destaca os esforços para melhorar a vida urbana, como os investimentos em saúde e educação, que permitiram o aumento da expectativa de vida média do indiano em 11 anos. Lógico, a renda per capita dos indianos crescera apenas 0,5% entre 1870 e 1913, enquanto o dos ingleses ultrapassava os 300%. É importante lembrarmos que a expectativa de vida dos indianos subiu essa quantia devido a falta de observação correta dos dados – impossíveis de quantificar – e só para mostrar a irrelevância, o crescimento da expectativa de vida passava dos 21 para os 32 anos, enquanto os ingleses no mesmo período, passavam dos 40 para os 69 anos.

Depois da Índia, eram os domínios as regiões mais ricas do Império Britânico. O Domínio era um território que estava sob a jurisdição do monarca, porém, havia o direito de autogoverno. Eram regiões com população branca compondo a maioria ou tendo expressividade, como o Canadá, a Irlanda, Nova Zelândia, e África do Sul. Estes domínios representaram até 25% das exportações do Império, assim como fizeram fortuna para diversas empresas britânicas que extraíam seus recursos minerais e agrícolas além das suas vantagens comerciais.

No continente africano, os britânicos vão tomar ações diferentes. Enquanto no Norte, os políticos britânicos focaram em locais estratégicos, como o Canal de Suez e a tomada do Egito em conjunto com o Sudão, nas demais regiões do continente as ações foram tomadas por empreendimentos privados. A busca por ouro na África Ocidental a partir do Níger foi realizada por George Goldie que cooptou investidores para a sua Companhia Nacional Africana e conseguiu uma carta patente do governo inglês para a tomada e controle de toda a região do baixo e médio Níger. O mais famoso empreendimento foi da companhia De Beers, liderada por Cecil Rodhes, famoso pela charge do mesmo sobre a África. Ele havia se mudado para a África com 17 anos e assumido o controle da Companhia De Beers, que havia obtido quase o monopólio da extração de diamantes da África do Sul, em parte graças aos investimentos da família Rotschild, detentora da maior parte das ações da Companhia. Rodhes foi o responsável pela vitória sobre o povo Matabele em 1893. Tanto as campanhas de Goldie como as de Rodhes foram vitoriosas graças ao implemento da metralhadora Maxim, criada por Hiram Maxim, que mesmo sendo dos EUA sempre direcionou seu mercado para a Grã-bretanha. Necessitando de apenas 4 operadores por metralhadora, ela era capaz de disparar quinhentos projeteis por minuto, cinquenta vezes mais rápido que os rifles comuns. Mesmo organizados e poderosos, os mais variados exércitos africanos eram facilmente exterminados. Além destes conflitos, o próprio governo britânico atuou nos combates no sul da África, como na Guerra contra os Zulus e nas Guerras contra as nações Boêres, como na Segunda Guerra Boêr entre 1899 e 1902. Em ambas os britânicos foram vitoriosos, como contra os Zulus, conforme observamos na famosa batalha de  Rorke’s Drift onde a resistência britânica ao ataque Zulu permitiu sua vitória definitiva em Ulundi. Os Zulus já haviam enfrentado os portugueses e os holandeses que havia criado a República Transvaal, esta que seria tomada pelos ingleses após a vitória sobre os boêres em 1902. Este conflito, marcado pela extrema violência contra os boêres e os africanos da região, inclusive com a criação de campos de concentração. Os ingleses foram um dos maiores responsáveis pelo genocídio africano do imperialismo, que ceifou a vida de 60 milhões de pessoas no continente.

Os Impérios Francês, Holandês e Belga

 A segunda maior nação imperialista do período foi a França, que começara a sua expansão imperialista pela África a partir de 1830 com a tomada da Argélia, que não foi tão fácil como os ingleses, pois exigiu um exército de 200 mil homens. O interesse era expandir o território francês criando colônias no norte da África e garantir a expansão dos seus mercados. O que se seguiu nos anos posteriores foi a ação de empresas franceses na extração dos recursos minerais da região. Grande parte dos domínios franceses estavam no norte africano, porém muitos deles sobre um controle indireto, como os protetorados do Marrocos e da Tunísia. Porém a exploração dos mercados e da mão de obra local mantinha a lucratividade da França, como a exploração que ocorria no Senegal e na Ásia, através da Indochina e da exploração do arroz. Até mesmo na América os franceses começaram a expandir suas ações, inclusive intervindo no governo mexicano em 1862 combatendo o governo local e instituindo um Império Mexicano em 1864, o que se tornou um fracasso pouco tempo depois.

Os holandeses e os belgas tinham impérios bem importantes na virada do século XIX para o XX. Os holandeses tinham como principal colônia a Indonésia, que era muito lucrativa a partir da exploração da mão de obra local nas atividades agrícolas e de mineração. Já os belgas não tinham uma pretensão expansionista, o que contrariava o seu rei Leopoldo, que tinha inclusive colocado seu genro Maximiliano no trono do Império Mexicano (1864-1867). O Congo Belga foi um empreendimento privado do próprio Leopoldo II, que implementou entre 1885-1908 um sistema brutal de exploração para poder garantir o retorno dos altos investimentos. No Congo Belga se instaurou uma repressão tão violenta aos povos locais que a própria comunidade europeia ficou chocada com tamanha violência – que entre torturas e mutilações – garantia a redução da população local pela metade em poucos anos. Em 1908 a comunidade europeia pressionou para que a própria Bélgica assumisse o controle da colônia, que só conseguiu se libertar em 1960, tornando uma das colônias mais brutais existentes no imperialismo.

Os Impérios Alemão e Italiano

Tanto a Itália como a Alemanha tiveram sua unificação em 1861 e 1870 respectivamente, o que permitiu sua entrada na corrida imperialista tardiamente. Os italianos, tiveram como uma ação imperialista as ondas migratórias, com a vida de inúmeros emigrantes para os EUA, Brasil e Argentina, levando ao aumento das relações comerciais com os EUA e colocando a Itália na esfera de influência de Brasil e Argentina. Com relação aos domínios territoriais, os italianos sofreram uma forte derrota em Adua (na Etiópia) em 1896, o que levou postergou suas campanhas de domínio territorial para o início do século XX.

A Alemanha se tornou um Império em 1870, porém, não havia uma integridade completa entre os diversos reinos alemães que coexistiam no Império. Por isso, Otto Von Bismark se preocupou primeiramente com o desenvolvimento comercial e com a estabilidade da Alemanha, as colônias no exterior eram vistas como questões secundárias. Quando Bismark percebeu a inevitabilidade de expandir suas ações comerciais para o continente africano, ele o fez primeiramente sob a convocação de uma conferência internacional sobre o continente, a famosa Conferência de Berlim (entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885). A tomada de territórios africanos por Bismark havia começado em abril de 1884 com a tomada da atual Namíbia. Na porção oriental ele conquista a atual Tanzânia e na Costa ocidental o Togo e Camarões. Feitas suas possessões, Bismark realiza a Conferência para garantir o livre comércio e navegação nos rios Congo e Níger assim como definir as condições para as futuras anexações na África. Os alemães também garantiram algumas concessões na China e na Nova Guiné, além de investirem em outras formas de imperialismo, como o informal, ou seja, através do seu mercado metalúrgico e químico – visto como de alta qualidade – e no demográfico, a partir da formação da forte emigração para a América, em especial para os EUA, Argentina e Brasil.

Os EUA e o Japão

Os EUA iniciaram sua corrida expansionista com a conquista do Oeste, na metade do século XIX, porém, eventos como a Guerra Civil e até mesmo a Doutrina Monroe, ofuscavam os interesses dos EUA numa política imperialista no cenário global, até a guerra com os espanhóis em 1898, os EUA haviam comprado o Alasca (dos russos em 1867) e ocupado o atol de Midway. Porém, a elite bélica do leste ganhava espaço, e eles defendiam a existência de uma marinha de guerra poderosa, isso ocorria antes mesmo da Guerra Civil.
A política imperialista dos EUA tem seu ponto de virada com a Guerra contra a Espanha. A crise econômica em Cuba reascendeu o levante contra os Espanhóis e a resposta brutal da metrópole europeia era divulgada pelos jornais dos EUA. A explosão do U.S.S Maine enviado para Cuba para uma visita de cortesia aprofundou a tensão com os espanhóis e desta forma as duas nações entraram em conflito. A Guerra Hispano-americana durou pouco tempo e a vitória dos EUA garantiu o domínio sobre Porto Rico, Guam e as Filipinas, além do forte controle político e militar exercido sobre Cuba, que ficou parcialmente independente em 1902.

Na América, a intervenção dos EUA não termina por aí, a doutrina Monroe era substituída pela do Big Stick, com Theodore Roosevelt, onde previa intervenções militares em governos latino-americanos que não colaborassem com as políticas imperialistas dos EUA. A “aquisição” do Canal do Panamá pelos EUA, que provocaram a independência do Panamá da Colômbia, foi uma destas ações. No Pacífico, a atuação dos EUA também foi importante, além da aquisição das Filipinas e do Havaí, a expansão do comércio com o oriente começava a entrar em conflito com outra potência imperialista, o Japão.

Falando em Japão, é importante ressaltar que o século XIX representou uma grande virada econômica e até mesmo cultural, quando em 1868 sobe ao poder Mutsuhito, nós temos o início da Era Meiji e o início de um acelerado processo de modernização industrial e militar no país. A falta de excedente de capital para investimento fez com que a busca imperialista japonesa fosse em busca de terras para sua expansão demográfica e de matérias-primas para manter sua indústria em forte expansão. Desta maneira, os japoneses entram em guerra contra China (1894-1895) e com a vitória, eles puderam anexar a ilha de Taiwan e parte da Manchúria, a Coreia seria anexada formalmente me 1910, porém a colonização japonesa na região já havia começado em 1879. A violência empreendida pelos japoneses a estas regiões e a negação de culpabilidade dos governos japoneses, é motivo de certas mágoas entre essas nações até hoje.

O Japão manteve certa dependência com a ordem internacional até o início do século XX, porém, após a Guerra contra a Rússia (1904-1905) a autoconfiança japonesa aumenta e o projeto imperialista japonês vai ganhar ainda mais força.

Os Impérios “esquecidos”

Existiram outros Impérios neste período, alguns poderosos e gigantescos, como o da Rússia, outros em franco declínio, como o Espanhol, que mantivera apenas uma colônia na África e o Português, cujas colônias na África e no Oriente só permaneciam por interesse da Inglaterra. O Brasil, também um Império do seu tempo, exercia sua política de influência na região do Prata, porém, não havia projeto expansionista, lembro que o Brasil era um país agrário e com grande mão de obra escravizada, cujas tensões externas poderiam prejudicar a estabilidade interna. Na Europa e Oriente Médio, nós temos impérios como o Austro-Húngaro, que se mantinha dominante sobre diversas nações dentro de um aglomerado dominado pela dinastia Habsburgo e o Império Otomano, que enfrentava a perda de espaço devido ao atraso tecnológico e econômico com relação as potências europeias. Na própria África nós temos o Império da Etiópia, que conseguiu expulsar os italianos em 1896 na Batalha de Adua além de derrotar diversas expedições otomanas e egípcias. Os etíopes promoveram uma tentativa de modernização de suas armas, o que fez a região manter-se livre até a invasão de Mussolini em 1936.

Por fim nós temos o caso do Império Chinês, que já existia (com períodos de intermitências) desde 221 a.C. com seu primeiro imperador, Qin Shi Huang da dinastia Zhou. A relação da China com a Europa foi em grande parte da História uma relação de comércio vantajosa para estes, pois os produtos e a economia chinesa em geral sempre foi mais avançada. Mesmo com a “era dos descobrimentos” o comércio com a China era limitado ao Cantão e exigia dos europeus pagamentos em prata. Porém, a Grã-Bretanha modifica esse sistema de pagamento no século XIX utilizando o ópio obtido na Índia. O vício entre os súditos e a diminuição das reservas de prata obrigaram o imperador chinês a tentar proibir o consumo e importação do ópio, resultado nas Guerras do Ópio entre 1839-1842 e 1856-1860. Com a industrialização avançada, os ingleses vencem e impõe uma série de restrições comerciais a China, incluindo o livre-trânsito de comerciantes ingleses e a legalização do ópio, além de renúncia de alguns impostos alfandegários e a cedência de Hong Kong aos britânicos. Ah, os cidadãos britânicos só poderiam ser julgados por leis britânicas em solo chinês. No geral, durante o século XIX a China perdeu territórios para a Grã-Bretanha, França, Rússia, Alemanha e Japão e o que restou ficou sob a esfera de influência destes países. Foi neste contexto que nós observamos a charge – China, a torna dos reis e dos imperadores – feita pelo francês Henry Maier em 1898. A China não foi partilhada definitivamente como no continente da África graças as diversas revoltas a dominação estrangeira, como a Guerra dos Boxers entre 1899-1901, onde justiceiros anticoloniais, anti-imperialistas e anticristãos iniciaram uma série de conflitos contra os dominadores europeus. Por muitos deles serem praticantes de artes marciais chineses (chamadas pelos ingleses de boxers) o conflito ganhou esta denominação. Mesmo derrotados, os chineses sinalizaram para as potências imperialistas que sua conquista e dominação seria tão custosa que não traria lucros. Desta maneira, mesmo que parcialmente, o Império Chinês manteve certa autonomia em alguns territórios…

Referências Bibliográficas

  • BERTONHA, João Fábio. Imperialismo. São Paulo: Contexto, 2022. 158 p.
  • FERGUSON, Niall. Império: Como os britânicos fizeram o mundo moderno. Rio de Janeiro: Planeta, 2020.
  • HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios (1875-1914). São Paulo: Paz e Terra, 2008.
  • KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: Das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2020.