OS SAMBAQUIS EM JOGO!
Os Sambaquis e a Pré-História brasileira
Nossa proposta é explorar o jogo Sambaquis e identificar os principais elementos dos Sambaquis, povo que vivia no litoral brasileiro e cuja característica de elevar montes de conchas lhes trouxe esse nome que tem origem no tupi – amontoado de conchas. Para isso, você fará a prática do jogo após uma leitura inicial, onde poderá se localizar com relação a Pré-História do Brasil.
Como chegaram os primeiros humanos no Brasil?
Esse é um tema incompleto, que provavelmente será modificado por pesquisas posteriores. Atualmente, a principal corrente teórica, aborda a chegada dos primeiros seres humanos no continente americano entre 20-15 mil anos atrás, quando populações asiáticas percorreram o então congelado Estreito de Bering, chegando no continente americano. Claro, há outras teorias, como a passagem através do Oceano Pacífico, já que na era do gelo, o nível dos oceanos era mais baixo, permitindo a existência de diversas ilhas, o que permitiria a travessia contínua a partir de pequenas jangadas. A falta de sítios arqueológicos na costa chilena e peruana, além da impossibilidade de comprovação de habitação destas ilhas (hoje submersas) impedem esta fundamentação teórica.
O que a ciência nos mostra hoje, é que pode ter havido duas ondas migratórias para a América do Sul, nas quais as primeiras ondas migratórias tinham uma característica física com traços comuns pertencentes a grupos humanos mais antigos, como os da Luzia, fóssil encontrado em Lagoa Santa (MG) que é datado por volta de12mil anos atrás. Os grupos posteriores, vieram de grupos humanos já estabilizados no estreito, cujos traços físicos são mais próximos a dos asiáticos, ou seja, os povos indígenas se originaram de um mesmo grupo da beríngia, um primeiro, com traços mais antigos e um segundo grupo, com traços morfológicos já constituídos pela característica daquela região do estreito.
Voltamos a Luzia, o fóssil encontrado por Peter Lund, africanizado por Walter Neves, mas logo depois reimaginado como traços humanos pertencentes a povos com características mais pré-históricas (antigas) comuns as primeiras populações migrantes. O que podemos estimar, é que a chegada destas primeiras populações humanas ocorre entre 16-14 mil anos atrás, em dois possíveis trajetos distintos, seja pela floresta amazônica, ou pelos andes entrando pelo atual sul do Rio Grande do Sul.
Neste primeiro momento, nós utilizamos os restos materiais (esqueletos, artefatos) encontrados a partir da escavação arqueológica, no que a tradição tupi chama de Yvy Mara Ey (morada dos antepassados). Por isso, as primeiras populações são classificadas de acordo com as características materiais, locais e possíveis práticas culturais, todas baseadas na Mara Ney (terra de provas). Assim, classificamos os primeiros habitantes de acordo com as “Tradições”, baseadas nas características dos artefatos, locais dos assentamentos e da própria dieta de determinada população.
Num primeiro momento, nós temos o encontro das populações humanas com um habitat completamente diferente do atual. O clima era mais frio e seco, a floresta amazônica era consideravelmente menor, e o litoral mais vasto. Muitos animais pertenciam a Megafauna, ou seja, eram mamíferos com peso superior a 40kg, como a Preguiça Gigante, que chegava a ter o tamanho de um elefante moderno, o Smilodon Populator, o famoso Dente-de-Sabre, que não tem nem parentesco com o tigre, mas que era do tamanho de um. Tinham ursos também, como o Urso de cara-curta, um parente daquele urso-de-óculos, porém mais parrudão. Ah, não esqueçamos dos Gliptodontes (tatus de armadura do tamanho de um carro), os Taxodontes (mistura de rinoceronte com hipopótamo) e os mastodontes ou gonofotérios, estes com trombas sofisticadas como a dos elefantes atuais. Tudo isso estava presente no continente americano e provavelmente espalhados pelo Brasil há 15 mil anos atrás. Ah, sem contar os atuais predadores como as onças, os jacarés, as cobras, etc… tudo isso já existia neste tempo. Então, entre mais ou menos 14 mil anos até 8 mil anos, nós temos a total predominância de grupos caçadores-coletores pescadores que utilizavam tecnologia lítica rudimentar, característica do paleolítico. As suas características variavam, por exemplo, no sul do Brasil nós podemos encontrar vestígios da Tradição Umbu, cujas pontas dos artefatos de pedra são de materiais e afiações similares, pertencentes a populações que chegaram nestas regiões entre 12-13 mil anos atrás, que caçavam grandes mamíferos e se protegiam do frio em moradias temporárias escavadas no solo ou nas cavernas. A sua permanência na região e a mudança climática que põe fim a megafauna pode ter trazido mudanças de caça a estas populações, que passaram a utilizar arcos e flechas com pontas afiadas de quartzo, assim como lanças e uma dieta que incluía a caça a animais mais velozes, daí o desenvolvimento das boleadeiras. Estas tecnologias estavam presentes no povo Guaicuru, já extinto, e que legou a cultura gaúcha com as cuias de chimarrão, as boleadeiras e o hábito carnívoro. Outra tradição é a Humaitá, cujas populações habitaram o sul e sudeste do Brasil, além do Paraguai e Argentina. Sua tecnologia lítica é mais variada do que a Umbu, e sugere-se que há uma ausência de arco e flecha e lanças pontudas, o que nós encontramos são objetos líticos mais arredondados, o que sugere que a coleta, a pesca e a vida nas florestas fossem elementos mais característicos destes grupos. Alguns artefatos em formato de lua trouxeram a denominação de povos dos bumerangues para esta tradição.
O Povo Sambaqui
Ainda podemos encontrar no litoral brasileiro alguns amontoados de conchas milenares, se bem que muitos destes amontoados foram destruídos por construtoras, que “achavam” natural as conchas estarem depositadas em montes. A partir de 6mil anos atrás nós podemos encontrar vestígios materiais chamados de “Sambaquis” (amontoados de conchas no idioma Tupy-Guarani). Do Nordeste ao Rio Grande do Sul nós percebemos esta manifestação, marcada por uma certa abundância alimentar, pois nestas regiões litorâneas nós temos uma diversidade marinha, mas também em contato com as florestas e outros biomas ricos em fonte alimentar. Por isso, estima-se que os povos sambaqui tenham se alastrado pelo litoral permanecendo até meados de 2500 anos atrás, onde estas construções são interrompidas.
O que sabemos é que os povos sambaqui eram seminômades, apesar de não desenvolverem a agricultura, a oferta de alimentos permitia uma estadia de longa duração nestes lugares. Eles eram exímios caçadores, e pescadores, nos quais os tubarões eram os grandes troféus conquistados. Já estes amontoados de conchas deveriam ter diversas funções, desde a demarcação geográfica, delimitando os seus domínios, para a observação territorial, armazenamento de utensílios, mas principalmente como rituais religiosos, onde nós temos os eventos fúnebres. Os restos fósseis sugerem que no sambaqui havia um segundo sepultamento, com oferendas sendo depositadas e talvez uma comilança neste ritual fúnebre. No sítio arqueológico de Jaboticabeira II em Jaguaruna SC, estima-se que até 40mil corpos tenham sido enterrados ali.