A Construção de uma Nação

A independência dos EUA foi marcada por uma constituição que centralizava e federalizava algumas questões da nova nação. George Washington seria eleito presidente em 1789 – ele governava a partir de Nova Iorque e posteriormente da Filadélfia, porém, uma nova capital era necessária e o local escolhido por ele ficava perto das suas terras, entre Maryland e a Virgínia, um do Norte e outro do Sul. Em 1791 a Capital Federal – Washington – começava a ser construída.
George Washington terá dois mandatos, sendo sucedido em 1797 por seu vice, John Adams (1797-1801). Ele vai enfrentar a questão da naturalização dos imigrantes e do endividamento das guerras de independência. O terceiro presidente será Thomas Jefferson, o cara que redigiu a Declaração de Independência dos EUA. Através dele, construíra-se a imagem da Nova Nação, baseada nas ideias iluministas, a nova nação representava um lugar independente, democrático e autossuficiente, guiado por pessoas virtuosas que marchavam em direção ao progresso.

As Guerras Napoleônicas e os EUA

As Guerras Napoleônicas inspiravam o governo Jefferson a expandir seus domínios. A região da Lousiana havia sido recuperada pelos franceses dos espanhóis, porém a necessidade de Napoleão em buscar recursos para sua expansão na Europa, facilitou a ação diplomática de James Monroe, fazendo com que os EUA comprassem a região por 15 milhões de dólares em 1803. Essa aproximação colocou os EUA em posição de neutralidade frente ao conflito europeu. 

Com James Madison (1809-1817) os EUA enfrentaram os ingleses após inúmeras embarcações estadunidenses terem sido apreendidas por eles. Essas ações culminaram na Declaração de Guerra pelo congresso dos EUA à Inglaterra em 1812. A Guerra de 1812 durou até 1815 e num primeiro momento havia um grande otimismo americano pela vitória e expansão territorial até o Canadá. Porém, a ofensiva inglesa causou grandes derrotas aos americanos, como o ataque a Washington em 1814, onde até mesmo a casa presidencial foi incendiada (posteriormente ela foi pintada de branco para retirar as marcas do incêndio). Também houve uma defesa heroica dos EUA, como em Baltimore, onde a resistência vai inspirar o hino da nação – The Star-Spangled Banner, composto por Francis Scott Key. Outra tentativa inglesa frustrada em Nova Orleans, quando o general Andrew Jackson impediu a tomada da cidade pelos ingleses. Mesmo com as derrotas os EUA ficaram mais seguros, pois sua independência ficou garantida e os ingleses pediram um acordo de paz realizado na Bélgica.
Nesse contexto de guerras napoleônicas, os espanhóis diminuem sua presença na Flórida – devido ao enfraquecimento do seu reino com a invasão dos franceses. A partir daí o secretário geral John Quincy Adams inicia as tratativas que culminam na compra da Flórida em 1819 por 5 milhões de dólares.
A formação da Santa Aliança na Europa pós derrota de Napoleão, permitia a consolidação de novas potências, como a Áustria, a Rússia e a Prússia. Havia o temor durante o governo de James Monroe, que essas nações buscassem interferir nos processos de independência que ocorriam na América. Para evitar esse perigo, ele vai criar uma postura diplomática conhecida como Doutrina Monroe – uma política em que os EUA declaravam neutralidade nos assuntos europeus, desde que estas nações se comprometam a não interferir nos assuntos do Novo Mundo. Os EUA se colocavam como os “guardiões” do continente, daí a expressão – A América para os americanos!

Economia e Política

Após os conflitos da Guerra de 1812, o crescimento econômico dos EUA se acelera muito. A tendência econômica da época era a concentração dos investimentos em um único produto, neste caso – o algodão. Novas tecnologias são desenvolvidas nessa área, como o descaroçador e os transportes a vapor, como o barco a vapor e o incremento da malha ferroviária. A famosa cena do clássico o Vento Levou, em que o barco a vapor no fundo representa a tranquilidade do campo, na verdade, é um sinônimo do progresso do período. Esse aumento da produção do algodão e do tabaco, aumenta a demanda por mão de obra, que na época era escravizada, através das populações negras vindas da África. A Virgínia será a região responsável por abastecer as novas regiões produtoras com escravizados. Enquanto isso no Norte, iniciava-se um processo de industrialização têxtil, motivado pela manufatura que já existia na região, devido aos invernos rigorosos e ao relevo que impedia uma agricultura exportadora.
A mão de obra utilizada no Norte era livre, e num país onde o sistema de colégio eleitoral era marcado pela proporção populacional, os estados do sul tinham mais representatividade, devido as populações escravizadas. Com isso, acentuavam-se os debates políticos entre Norte e Sul quando havia a adesão de algum novo estado. Um exemplo ocorreu com o Missouri quando esse novo estado passou a fazer parte da União. Por ser escravista, os políticos do Norte pressionaram o congresso até que o mesmo apaziguasse a situação aceitando a adesão do Maine – um estado livre.
John Quincy Adams era o presidente quando uma grave crise econômica – crise do capitalismo – se instaura no país. A queda no preço internacional do algodão fez com que muitos fazendeiros não conseguissem pagar seus empréstimos e com isso até bancos estatais vão quebrar.  A recondução econômica dos EUA mostrava um contraste entre os interesses populares e os da elite. Neste contexto, um herói da Guerra de 1812 – Andrew Jackson – vence as eleições de 1828, a partir de um apelo populista, com comícios onde ele destacava de que era o povo que deveria fazer a política de governo.
Andrew Jackson é conduzido a Casa Branca e a sua postura populista desagrada os proprietários sulistas, representados por Calhoun ( vice-presidente) que defendia a Doutrina de Anulação, onde os estados teriam o direito de anular as leis federais. A postura contrária de Jackson faria surgir um acirrado debate que eclodiria na Guerra Civil.

 

Se para os eleitores brancos Jackson representava um símbolo da esperança, como a sua reeleição iria se provar – para os indígenas, Jackson representou morte e destruição. No seu governo, alguns estados como a Geórgia, Alabama e Mississipi, criaram ações para expropriar terras indígenas e Jackson contribui tornando estas ações constitucionais com a promulgação da “Lei de Remoção dos Índios” que previa deslocar os povos indígenas para uma reserva no Oklahoma. Milhares foram expropriados, especialmente os Cherokees, mas também outras como os Choctaw, Creek e Chicksaw. Em 1839 vai ocorrer a mais mortal destas jornadas, que ficou conhecida como “Trilha das Lágrimas”, milhares de indígenas morreram ao longo dos 1500km percorridos, seja de doenças, fome, frio, entre outros fatores…

Reforma Religiosa

As correntes de pensamento que valorizavam a ciência e a razão, presentes na Europa do século XIX, o crescimento industrial e a valorização do nacionalismo, também estavam presentes nos EUA. Por outro lado, também se percebe o crescimento de uma visão romântica contrária ao pensamento racional, mecânico e iluminista – principalmente após a vitória de Andrew Jackson (que representava um homem humilde, que saíra do povo) contra o intelectualismo de John Quincy Adams. É neste contexto que nós percebemos alguns rumos tomada pelos diferentes grupos religiosos nos EUA.
Nas regiões em expansão, como no Sul e no Meio-Oeste, cresciam as ações de grupos batistas e metodistas, que usavam reuniões campais, bastante emotivas e bem-organizadas, para superar os adeptos dos Congregacionais, anglicanos e presbiterianos. Apesar de promover a tolerância, a compaixão entre outras virtudes, estes grupos religiosos não fomentaram movimentos sociais, como os voltados ao abolicionismo.  No Norte, a maioria era adepta as Congregacionais e aos Presbiterianos, fortemente inspirados pelas tradições puritanas e mesmo com reuniões menos emotivas, esses grupos dominavam as cidades de médio e pequeno porte.
Enquanto Batistas e Metodistas pertencem a um cristianismo protestante já bem difundido no Brasil, o que os torna mais familiares a nós, as Congregacionais e os Presbiterianos se distanciam da nossa compreensão, porém, também pertencem a um cristianismo protestante, mais vinculado as ideias de John Knox e João Calvino. Os Presbiterianos têm seu nome derivado na sua forma de liderança, baseada nos presbíteros (anciãos em grego). Os presbiterianos enfatizam a soberania de Deus e a autoridade das escrituras, valorizando uma educação teológica. Já as Igrejas Congregacionais, que também são protestantes, têm como doutrina a autonomia das Congregações Individuais e a Igualdade de todos os membros da Igreja.
Neste contexto, ocorre um Segundo Grande Despertar, principalmente após a vitória de Andrew Jackson. O novo fenômeno da religião nos EUA é caracterizado por novas interpretações calvinistas (neocalvinismo) que amenizavam doutrinas mais duras, como a da predestinação. Sob essa nova perspectiva, os indivíduos seria seres livres, ou seja, teriam a possibilidade de superar as tendências naturais para o pecado. Esta ideia de que a salvação se dá pela graça mediante a fé, vai criar uma postura altamente moralizante dentro das Congregacionais, incluindo campanhas abolicionistas e contrárias a “epidemia do Whisky” presente desde as guerras de independência.

A Questão do Texas

Nessa ideia de Nação que surge nos EUA, a presença marcante da religião criou uma concepção de que existiam povos escolhidos e abençoados por Deus e para muitos, a nova nação havia sido eleita para um destino glorioso. A fé nas instituições livres e democráticas também crescia. A partir daí nós temos a ideia do Destino Manifesto – que é a missão de expandir a sociedade dos EUA a regiões “mais necessitadas”.
O Texas é um exemplo desse argumento. O território havia sido herdado pelo México da Espanha em 1821, porém, os estadunidenses buscavam expandir seus territórios para esta região. Houve uma permissão para a entrada destes colonos dos EUA na região em 1823, graças ao intermédio de Stephen Austin (Austin é a capital do Texas), porém, a crescente população que chegava na região não respeitava as leis mexicanas, entre estas leis estava a obrigatoriedade da adesão ao catolicismo e a proibição da escravidão.

Em 1836 vai iniciar uma revolta e os colonos vão declarar a Independência do Texas e criar uma constituição baseada na dos EUA. A República do Texas existirá entre os anos de 1836 e 1846, quando vai aprovara a proposta de anexação dos EUA, com a permissão da escravidão e pagamento de suas dívidas, em troca, houve uma limitação territorial dada ao novo estado.
Um dos eventos mais famosos deste conflito ocorre entre o final de fevereiro e início de março de 1836, quando o presidente mexicano, Sant’Anna, lança uma ofensiva ao forte texano conhecido como o Álamo. A morte dos combatentes do Álamo, incluindo o deputado estadunidense Davy Crockett, reforçam a narrativa texana de luta pela liberdade, aderindo milhares de colonos dos EUA a sua causa. Em 27 de março daquele mesmo ano, prisioneiros texanos seriam executados ao serem cercados na cidade de Goliad.
A vingança ocorreria em 21 de abril, quando o exército mexicano comandados pelo seu presidente Sant’Anna descansavam durante a tarde. O exército de 900 texanos pegaria 1500 mexicanos de surpresa, sob os gritos de Lembre-se do Álamo, lembre-se de Goliad! Os texanos liderados por Houston derrotam os mexicanos em apenas 18 minutos, com uma perseguição que ultrapassa 1 hora e meia, levando mais de 700 mexicanos a morte. Até mesmo Sant’Anna é capturado, e sua soltura é feita sob a promessa de que ele reconheceria a independência do Texas.A
o anexar o Texas, os EUA buscaram a Califórnia – para ter acesso ao comércio pelo oceano pacífico. Assim, começa um novo conflito com o México entre 1846-1848, a chamada Guerra Mexicana-Americana, onde a vitória dos estadunidenses após a tomada da Cidade do México, garante a Califórnia e o Novo México, um acréscimo de 25% ao seu território. Já os mexicanos perderam 50% do seu jovem país. Por fim, um tratado que definia as fronteiras do território do Oregon com os ingleses em 1846 consolidava o território dos EUA ainda na primeira metade do século XIX.

 

 

 

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Referências:

  1. BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2016.
  2. KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Editora Contexto, 2021.
  3. WIKIPEDIA. História dos Estados Unidos. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_dos_Estados_Unidos. Acesso em: 13 fev. 2024.