A Guerra Civil

O Prelúdio da Guerra

É na segunda metade do século XIX que os EUA vão enfrentar o seu maior desafio como União – estou falando da Guerra Civil ou Guerra da Secessão como também é conhecida. Se as guerras contra o México e a febre do ouro foram elementos que mobilizaram o Norte e o Sul dos EUA, foi a expansão do território que trouxe um aumento da disputa política entre regiões economicamente e culturalmente distintas. O Norte era baseado no desenvolvimento da força livre de trabalho, graças as suas características econômicas, baseadas na indústria e no comércio. Já o Sul se mantinha através do sistema de plantations, principalmente do tabaco e do algodão. Esse sistema favorecia a manutenção da mão de obra escravizada. 

Os estados do sul e do norte sempre tiveram fortes divergências, mantidas a partir de diversos acordos políticos. De maneira geral, as principais diferenças eram;

  • A questão sobre as tarifas de importação, onde os yankees (como eram chamados os nortistas) queriam maior taxação sobre as importações, de modo a proteger seus mercados, que concorriam com a indústria europeia. Já os sulistas queriam impostos mais baixos, pois como eram importadores destes produtos, eles eram favorecidos pela concorrência.
  • O Norte era o credor dos EUA, por isso, buscavam um banco nacional com direitos exclusivos sobre a emissão da moeda. Os sulistas, preferiam a manutenção dos bancos particulares licenciados, que emitiam moeda local, como eles eram devedores (faziam empréstimos) apoiavam a variedade de moedas e as políticas inflacionárias que favoreciam os produtores nas relações comerciais com o mercado externo.
  • A escravidão era um outro grande problema a ser resolvido. Com o passar dos anos, os nortistas ficaram cada vez mais hostis a escravidão. Com o crescimento populacional do Norte, a sua posição contrária a escravidão começou a ser representada no congresso. A pressão dos sulistas pela manutenção exigia diversos acordos para a manutenção da escravidão.

Principais personagens

A partir de 1850 nós temos o Norte ultrapassando o Sul em número de eleitores, porém Os estados do sul e do norte sempre tiveram fortes divergências, mantidas a partir de diversos acordos políticos. De maneira geral, as principais diferenças eram;

  • A questão sobre as tarifas de importação, onde os yankees (como eram chamados os nortistas) queriam maior taxação sobre as importações, de modo a proteger seus mercados, que concorriam com a indústria europeia. Já os sulistas queriam impostos mais baixos, pois como eram importadores destes produtos, eles eram favorecidos pela concorrência.
  • O Norte era o credor dos EUA, por isso, buscavam um banco nacional com direitos exclusivos sobre a emissão da moeda. Os sulistas, preferiam a manutenção dos bancos particulares licenciados, que emitiam moeda local, como eles eram devedores (faziam empréstimos) apoiavam a variedade de moedas e as políticas inflacionárias que favoreciam os produtores nas relações comerciais com o mercado externo.
  • A escravidão era um outro grande problema a ser resolvido. Com o passar dos anos, os nortistas ficaram cada vez mais hostis a escravidão. Com o crescimento populacional do Norte, a sua posição contrária a escravidão começou a ser representada no congresso. A pressão dos sulistas pela manutenção exigia diversos acordos para a manutenção da escravidão.

o colegiado eleitoral ainda pertencia ao Sul. Com a entrada de novos estados na federação, a disputa por modelos que aproximassem tal estado ao Sul e ao Norte aumentava. Um exemplo ocorre através do ato Kansas-Nebraska de 1854. O acordo do Missouri de 1820 previa que todos os Estados criados acima do paralelo 36º fossem escravagistas, se a lei permanecesse assim, automaticamente estes dois estados se manteriam escravistas e com isso o Sul manteria sua maioria no senado. Porém, os abolicionistas reagem, inclusive desfazendo o partido dos Whigs, que era uma coalizão com diversos interesses criada na época de Andrew Jackson para se opor aos Democratas, que agradavam aos interesses dos sulistas. Com a criação do partido Republicano fortemente apoiado pelo Norte abolicionista, os políticos criam uma manobra para poderem tornar a população local soberana quanto a escolha do modelo a ser seguido no Estado. Desta maneira, nós temos uma invasão de abolicionistas e escravagistas no Kansas para poderem definir a posição do novo estado através de muita luta e corrupção, no evento que ficou conhecido como Bleeding Kansas. Este conflito fez com que houvesse uma divisão política no local, quando políticos abolicionistas se afastaram do resultado escandaloso e criaram uma divisão de governo no local.

As atenções se voltaram para as eleições de 1860, quando se apresenta o candidato do partido Republicano, Abraham Lincoln. Enquanto os sulistas o condenavam por ele ser um abolicionista e os eleitores do norte por ele não se mostrar um abolicionista, isso devido a sua ambiguidade no discurso, da mesma forma que ele condenava a escravidão, ele afirmava a superioridade da raça branca e garantia a permanência da escravidão nos estados onde a população havia definido, Lincoln era antes de ser um abolicionista um antiescravista. Apesar disso, ele era um unionista, ou seja, pregava a manutenção da União de todos os estados da federação.
Ao ser eleito e tomar posse, Lincoln até busca controlar as animosidades já existentes, prometendo a manutenção da escravidão nos estados onde ela já existia. Porém, para os sulistas a escravidão no sentindo vertical (norte e sul) não fazia mais sentido na medida que o país se expandia no sentido horizontal (para o oeste). Antes da própria posse de Lincoln, a Carolina do Sul já havia convocado uma convenção para anular a constituição federal, esses atos ordinários de secessão espalham-se para outros estados sulistas, e em fevereiro de 1861, sete estados formavam a Confederação dos Estados da América (Carolina do Sul, Alabama, Mississippi, Geórgia, Flórida, Texas e Louisiana) e nomeando Jefferson Davies como presidente da Confederação. Percebendo essa secessão, Lincoln busca negociar a permanência destes estados pacificamente, porém, ao negar a exigência dos confederados de retirar as tropas da União do forte Sumter na Carolina do Sul, este é atacado por tropas sulistas em 12 de abril de 1861, o ataque ao forte Sumter dava início a Guerra Civil. A resposta de Lincoln é a convocação de um grande exército para o conflito na Carolina do Sul, e esta ação incitou mais quatro estados a ficarem do lado da Confederação (Virgínia, Arkansas, Carolina do Norte e Tennessee).

 

A Guerra!

A economia do norte era industrializada, continha extensas estradas férreas para o seu uso, além disso, tinham uma reserva humana quatro vezes maior do que a do sul. Talvez os sulistas acreditassem que os yankees nunca entrassem em conflito armado, ou que os europeus pudessem ajudá-los, já que o suprimento do algodão era essencial para a economia industrial europeia (eles não sabiam, mas os estoques de algodão estavam cheios e houve outros fornecedores no período, como o Brasil). O que eles possuíam eram grandes comandantes, como Robert Lee, o general do exército confederado, essencial na defesa da capital Richmond, invadida diversas vezes durante o conflito.
A Guerra foi um show de horrores, registrada através de grandes fotografias, cujas imensas chapas de aço garantiram uma qualidade que demonstra o terror do conflito de forma mais vívida. Militarmente, ambos os exércitos poderiam rivalizar com quaisquer outros existentes no planeta. Diversas inovações militares ocorreram no período, sejam elas táticas, como o uso das trincheiras, ou técnicas, com uso de balões para observação, aprimoramento de armas (como os rifle Spencer e Henry), e dos navios que passaram a ser feitos de aço e movidos a vapor. Houve até mesmo a construção de um submarino confederado (Hunley). Também temos a temível metralhadora Gatling, que para sorte dos Confederados, só ficou pronta em 1866, acabou sendo usada esporadicamente em campo de batalha durante sua fase de testes.

Sem objetivos geográficos claros, a guerra consistiu num enfrentamento militar direto na maioria das vezes, gerando grandes batalhas com inúmeras vítimas. Em 1861 podemos destacar o imenso cerco naval que a União faz aos confederados, que ficaram com a economia prejudicada por não conseguirem enviar seus produtos para exportação. Nesse campo naval, nós temos a Batalha de Hampton Roads em 9 de março de 1862 – ela ocorre entre o navio CSS Virginia e o USS Monitor, os primeiros encouraçados da guerra. No dia anterior o CSS Virginia havia derrotado a frota de navios de madeira da União, que esperava a chegada do USS Monitor, um encouraçado recém-construído. O enfrentamento entre estes dois navios foi inconclusivo, pois a frota marítima que estava junto ao USS Monitor fez com que o CSS Virginia tivesse que se retirar. Apesar de inúmeras provocações do CSS Virginia para a luta em alto mar com o USS Monitor, o mesmo não caiu na provocação e os confederados tiveram que se retirar, afundando o seu navio posteriormente.
Em 12 de setembro de 1862 nós temos a Batalha de Antietam, uma grande batalha campal onde o exército da União conseguiu repelir o exército confederado comandado por Robert Lee que buscava invadir o território do norte. O resultado da batalha não agradou muito Lincoln que achou as ações do general McClellan provocaram baixas muito pesadas ao exército da União e mantiveram os confederados ativos. Mesmo assim, a batalha é considerada um ponto de virada no conflito, já que o próprio Lincoln anunciaria a Proclamação de Emancipação no começo de 1863. Este era um decreto que declarava que todos os escravizados em territórios rebeldes (confederados) estariam livres.
Em julho de 1863 ocorre a batalha mais decisiva da guerra – A Batalha de Gettysburg. Os Confederados perceberam que o exército da União ficava cada vez mais poderoso tanto no armamento quanto na reserva de homens (12% do exército da união era composto de negros) além de imigrantes alemães e irlandeses. Por isso, Robert Lee reuniu uma grande força para buscar invadir os territórios do Norte novamente e infligir baixas expressivas, levando Lincoln para a mesa de negociações. O que acontece que é o general da União George Meade vai encontrar Lee em Gettysburg e o conflito ocorre ali mesmo. Para quebrar as linhas da União e derrotar o exército do norte, Lee envia George Pickett para atacar o centro da linha, mesmo sob protestos. As fortes defesas dos yankees liderados por Hankock vão ocasionar na maior derrota de Lee na guerra, que vinha de grandes vitórias militares sobre o Norte e estava ganhando fama de invencível. Em novembro daquele ano, Lincoln vai proferir o discurso de Gettysburg, defendendo a liberdade e a democracia, foi um dos seus discursos mais famosos.
A partir daí o exército dos Confederados enfraquece, milhares de soldados desertam e a esperança de vitória diminui muito. Na metade de 1864 começa o cerco de Petersburg. O cerco de Petersburg foi uma operação militar prolongada que ocorreu de junho de 1864 a abril de 1865 durante a Guerra Civil Americana. Petersburg era uma cidade estrategicamente importante para os Confederados, pois era um centro ferroviário vital para o suprimento de Richmond, a capital confederada.
Após a Batalha de Gettysburg em 1863, a Guerra Civil entrou em uma fase de cerco prolongado, com o Exército da União sob o comando do General Ulysses S. Grant tentando romper as linhas defensivas dos Confederados ao redor de Petersburg. Os combates em Petersburg foram caracterizados por trincheiras e assaltos frontais, semelhantes aos da Primeira Guerra Mundial, com ambos os lados cavando trincheiras e fortificando suas posições. O cerco de Petersburg foi marcado por várias batalhas significativas, incluindo a Batalha de the Crater em julho de 1864, onde os Unionistas tentaram explodir uma mina sob as linhas Confederadas, mas acabaram sofrendo uma derrota desastrosa. O cerco de Petersburg finalmente terminou em abril de 1865, quando as tropas da União finalmente romperam as linhas Confederadas, levando à evacuação de Richmond e à rendição do exército confederado sob o comando do General Robert E. Lee na Batalha de Appomattox Court House, marcando efetivamente o fim da Guerra Civil Americana.

A Reconstrução e o Racismo

Durante o conflito, Lincoln já negociava a rendição e anistia aqueles que desistissem da causa confederada (menos os líderes). Essa postura continua após o conflito, com Lincoln apoiando um projeto de restauração dos estados confederados, mantendo uma certa autonomia em seus governos, evitando apenas que os líderes da revolta assumissem cargos políticos ou tivessem direto a voto. Jefferson Davis e Robert E. Lee, por exemplo, não ficaram presos e continuaram suas vidas de forma ativa, com Jefferson defendendo a causa confederada e Lee buscando um processo de reconciliação entre Sul e o Norte a partir do seu cargo de presidente da Universidade de Washington. Após a guerra é aprovada a 13ª emenda (declarando o fim da escravidão) no mês de janeiro (ela seria ratificada somente em dezembro) e Lincoln entra em atrito com o seu partido republicano, que buscava uma ação mais radical com relação aos estados do sul. Em dezembro Lincoln é assassinado por um ativista/terrorista que defendia os ideais confederados enquanto assistia a uma peça de teatro, seu vice, Andrew Johnson assume a presidência, mantendo a linha reformista mais branda de Lincoln. Porém em 1866 ocorre as eleições para o congresso e a maioria republicana é mais radical, eles promovem além da 13ª emenda, a 14ª que concedeu cidadania e proteções constitucionais iguais a todos os cidadãos dos Estados Unidos; e a 15ª Emenda, que proibiu a negação de direito de voto com base na raça, cor ou condição de servidão anterior. Além disso, os estados confederados foram transformados em distritos com ampla intervenção militar para garantir as políticas emancipatórias a cidadãos negros. Lembrando que antes destas ações, leis estaduais no Sul criavam vários artifícios para impedir a cidadania dos negros, a posse de propriedade e garantindo o trabalho servil no campo, como a lei da vadiagem, que impunha aos negros a obrigatoriedade do trabalho no campo – mantendo as relações servis existentes na escravidão – caso eles não encontrassem um trabalho. As mulheres negras continuavam escanteadas da sociedade, sem direito ao voto, elas lutaram ativamente através de movimentos comunitários em prol de maiores direitos.

O racismo existia e existe em todos os EUA, porém, se no Norte ele se manifestava de forma mais “envergonhada”, no Sul sempre existiu na forma da lei (como na escravidão). A Reconstrução Radical realizada pelo congresso, aumentava o ódio de alguns e grupos supremacistas brancos começaram a aparecer, como a KKK (Ku Klux Klan) que se originava do grego Kyklos (círculo) e foi criada em Nashville no ano de 1867. O círculo vinha da ideia de sociedade fechada, e para fazer parte era só ser um homem branco não judeu e cristão protestante, em defesa da “boa moral” e dos “bons costumes” e da “pátria”. Os membros da KKK assassinaram mais de 20 mil pessoas entre 1867 e 1871, sendo negros, judeus e brancos nos quais chamavam de negro lovers (simpatizantes da causa dos negros) entre outras minorias. Mesmo com a providência da União, outros grupos supremacistas aparecem, como os Camisas Vermelhas, a Linha Branca, Liga Branca e o Clube do Povo – todos eles apoiados “protegidos” pelos governos locais.

As eleições de 1870 são marcadas por intensas ações racistas (tanto no Norte como no Sul) com a supervalorização de atos de corrupção promovidas por políticos negros e a culpabilização dos problemas do Sul a participação dos negros na política. Com isso, toma o poder um partido republicano mais moderado, sob a presidência e liderança de Ulisses Grant (general da União na guerra). O próprio partido democrata começa a se modificar nesse novo contexto, e ambos articulam para um processo de reconstrução do Sul ampliando a sua autonomia política, com o retorno de políticos tradicionais chamados de Redentores. Essa política visava a aceleração do crescimento econômico do país com o aumento do subsídio a construção de infraestrutura, como a ampliação da malha ferroviária. Em 1877 cai o último governo radical e os democratas brancos assumem todos os governos do sul, consolidando o poder para os “redentores”. Aos negros restou a resistência, já que as terras confiscadas voltaram aos brancos e as leis locais, chamadas de Jim Crow (uma música popular) fortaleciam a política racista de separados, mas iguais. Ou seja, restaurantes, transportes, escolas, bairros e outros serviços tinham espaços separados para brancos e negros – essa política vai perdurar até a década de 1960 e suas consequências são presentes até hoje.

Referências Bibliográficas