EIXO DA HISTÓRIA

E se […] tratássemos o jogo como um Objeto de pesquisa histórica? Esta é uma das propostas do LHJ. A seguir, vamos observar algumas possibilidades desta prática.

Ao adotar uma abordagem crítica, o LHJ não se limita a ver os jogos como ferramentas de aprendizado ou como uma simples representação de elementos históricos, mas os utiliza como “vestígios do passado”, que, tal como qualquer outro vestígio histórico, podem ser analisados de diferentes perspectivas para se entender melhor a sua relevância e impacto.

O RPG a Ascensão dos Deuses é um exemplo de criação de narrativa histórica. Em breve nós teremos uma área exclusiva para criação de RPG's no site

As Narrativas em RPG's

Dentro do Laboratório de História e Jogos (LHJ), os RPG’s desempenham um papel crucial ao integrar a narrativa histórica à prática pedagógica de maneira envolvente e reflexiva. Esses jogos, que incentivam a construção de histórias coletivas e a representação de personagens, permitem aos estudantes vivenciar e questionar as realidades históricas, culturais e sociais que estão sendo exploradas. A dinâmica do RPG não se limita a apenas construir enredos, mas desafia os alunos a refletirem sobre as escolhas dos personagens e as implicações dessas decisões dentro de um contexto histórico. Essa abordagem ativa, que vai além da simples análise de fontes históricas, coloca os alunos no papel de agentes da história, permitindo-lhes reimaginar e reconstruir o passado de uma maneira crítica. Ao envolverem-se na criação e interpretação de narrativas, os alunos desenvolvem uma compreensão mais profunda dos eventos históricos, ao mesmo tempo em que questionam as construções ideológicas presentes na História tradicional, ampliando o campo de análise e possibilitando a criação de novas perspectivas sobre o passado.

Os jogos e o uso dos Conceitos

No Laboratório de História e Jogos (LHJ), os jogos não são apenas ferramentas de entretenimento, mas também poderosos instrumentos para a construção e compreensão de conceitos históricos. Ao explorar jogos de mercado, como os de civilização ou estratégia, os alunos têm a oportunidade de vivenciar e refletir sobre conceitos complexos como tempo, democracia, revolução e civilização, por meio das dinâmicas e das escolhas feitas dentro do jogo. Esses jogos, que muitas vezes apresentam uma representação simplificada ou idealizada de certos eventos e processos históricos, oferecem um ponto de partida para que os alunos desconstruam e analisem essas representações à luz dos conceitos históricos que são abordados em sala de aula. Através da experiência prática, os estudantes podem perceber como os conceitos se relacionam com as práticas sociais, políticas e culturais de diferentes épocas, e como essas ideias se moldam e se transformam ao longo do tempo. Além disso, ao refletirem sobre a forma como esses conceitos são incorporados nas narrativas dos jogos, os alunos podem questionar as ideologias e os valores subjacentes à construção dessas representações, promovendo uma análise crítica e reflexiva sobre o uso dos conceitos na História e nas sociedades contemporâneas. Assim, os jogos tornam-se um espaço dinâmico e interativo para a aprendizagem de conceitos históricos, estimulando uma abordagem mais profunda e personalizada do conhecimento.

As nossas ações incluem a prática de jogos de tabuleiro com contexto histórico e o desenvolvimento de reflexões acerca das observações realizadas na prática. Apresentar estas construções em Feiras, por exemplo, foram ações que conseguimos desenvolver.

Por uma História crítica [...]

E se transformássemos o nosso objeto de estudo (neste caso o jogo) em um instrumento que permitisse a elaboração de novos olhares, novos problemas para o debate histórico? É esta a busca de uma Teoria Crítica do Jogo que eu faço e espero que algum dia eu consiga promovê-la por aqui (mas deixaremos isso para o futuro). Agora, nós vamos utilizar o jogo como um instrumento de crítica social, por isso, algumas linhas teóricas podem ser interessantes para este processo.

O protagonismo das mulheres

No nosso Laboratório de História e Jogos, exploramos como o protagonismo feminino nos jogos digitais pode ser uma ferramenta poderosa para discutir e aprofundar temas históricos, especialmente a História das Mulheres. A atividade que realizamos partiu da ideia de que os jogos, como meios de comunicação e cultura, têm o poder de representar e transformar a percepção da história e das mulheres, tanto como personagens quanto como jogadoras.
Nesta proposta, a atividade foi investigar como a presença de mulheres como protagonistas nos jogos pode empoderar jogadoras e, ao mesmo tempo, contribuir para a representatividade de gênero dentro da indústria dos jogos. 

A teoria da História das Mulheres e os jogos digitais propõe que são os temas e práticas culturais desenvolvidas dentro da indústria dos jogos que têm o poder de reconfigurar a História das Mulheres, e não os jogos em si. Ao incorporar mulheres como protagonistas, as narrativas de jogos digitais podem se tornar uma ferramenta crítica para contestar as representações históricas tradicionais, frequentemente dominadas por perspectivas masculinas. Dessa forma, a reflexão sobre as representações femininas nos jogos, construída a partir de práticas culturais e de pesquisa, permite não apenas uma análise crítica das disparidades de gênero, mas também uma reinterpretação das experiências das mulheres na história, promovendo uma maior visibilidade e empoderamento.

A História Vista de Baixo nos Jogos: Analisando League of Legends e Red Dead Redemption 2

A metodologia da História Vista de Baixo foi aplicada de maneira profunda em duas pesquisas que exploraram a marginalização e o racismo nos jogos League of Legends e Red Dead Redemption 2. Ambas as análises utilizaram o jogo como ferramenta para investigar como essas questões sociais são retratadas e refletidas nos universos digitais, permitindo uma conexão entre o passado histórico e as problemáticas atuais da sociedade.

As pesquisas sobre League of Legends e Red Dead Redemption 2 utilizaram a metodologia da História Vista de Baixo para examinar as representações de marginalização e desigualdade racial nos jogos. Em League of Legends, a análise focou nas desigualdades sociais e culturais na Runeterra, especialmente no que se refere aos personagens marginalizados de contextos étnicos e culturais, conectando essas representações à marginalização observada nas periferias do Brasil e temas contemporâneos, como o sistema carcerário. Em Red Dead Redemption 2, a pesquisa investigou o racismo no Velho Oeste, explorando como o jogo representa afro-americanos, indígenas e outras minorias, e como essas representações se relacionam com as desigualdades raciais persistentes na sociedade moderna, enriquecendo a análise com uma revisão histórica do racismo nos EUA e no Brasil. Ambas as pesquisas mostraram como os jogos podem ser ferramentas poderosas para refletir sobre questões sociais e raciais, ampliando o entendimento das dinâmicas de poder e exclusão.

Ao unir essas duas análises, fica claro como a História Vista de Baixo oferece uma metodologia eficaz para explorar a representação de marginalizados nos jogos. Ela permite que, ao invés de simplesmente aceitar as narrativas dominantes, se procure compreender as experiências das pessoas comuns e dos excluídos, suas lutas e suas formas de resistência. Nos dois casos, o uso do jogo como ferramenta de análise contribui para uma visão crítica das dinâmicas de poder, racismo e exclusão, expandindo a maneira como percebemos tanto o conteúdo dos jogos quanto suas implicações sociais.

Além disso, essa abordagem amplia o campo de análise para além da simples representação, também considerando as condições de produção dos jogos e o mercado que os envolve. Através da História Vista de Baixo, podemos investigar não apenas os temas tratados, mas também as decisões de desenvolvimento, os processos de trabalho e as escolhas narrativas que moldam essas representações. Isso oferece uma visão mais completa sobre como os jogos podem ser uma ferramenta crítica e educativa, permitindo que os jogadores e pesquisadores reflitam sobre as questões sociais e culturais, tanto no passado quanto no presente.

A construção metodológica entre jogo como objeto e a pesquisa histórica não deve se limitar as propostas e exemplos desenvolvidos neste espaço. Esta deve ser uma prática onde a construção e a reflexão deve ser constante!