História
Vol. 1, N. 1, Ano 2025
Autoras: Amanda Pinheiro, Ana Clara de Oliveira de Vargas e Maria Julia Severo Torres
Os jogos digitais podem funcionar como ferramentas de entretenimento e também como crítica social, mostrando que as narrativas apocalípticas refletem desafios ambientais, sociais e econômicos. A partir da prática dos jogos The Last of Us e Pathologic 2, foi possível criar condições de reflexão e crítica sobre o fim do mundo em um contexto capitalista. Essas narrativas acabam “cegando” as pessoas, fazendo com que não reflitam sobre sua própria realidade, já que apresentam colapsos provocados por fatores não-humanos, afastando o debate dos problemas reais causados pela ação humana.
Pathologic 2, se passa em uma cidade rural isolada, que não tem seu nome apresentado, o jogo se passa na visão do protagonista Artemy Burakh, um recém formado em medicina. O jogo, aparentemente, se passa durante o período da Guerra Civil Russa, entre 1917 e 1922, com detalhes que sugerem que o jogo se passa em 1920.
O jogo foca em mostrar como uma praga, uma doença respiratória, consome a cidade aos poucos, deixando o ambiente cada vez mais desesperador e caótico, o jogador tem um curto período de 12 dias para se virar, para lidar com surto e salvar ao máximo, e se for possível criar uma cura para salvar a pequena cidade, mas se falhar, a cidade será extinta, revelando que o exército planejava explodir o lugar todo, dando o fim a praga e aos últimos moradores, infectados ou não.
Os criadores de Pathologic inventaram uma doença e um extermínio em um contexto onde nações estrangeiras invadiram a Rússia comunista. Conseguindo ocultar que havia um processo de interesse capitalista, assim utilizando dessa doença para apagar esse questionamento.
Em The Last of Us, acompanhamos a história de Joel, que em 2013 perde a sua filha, Sarah, por um soldado que atirou na mesma, marcando Joel profundamente. Vinte anos depois, em 2033, o mundo está destruído e controlado por zonas de quarentena. Joel sobrevive como contrabandista ao lado de Tess. Eles recebem a missão de transportar Ellie, uma garota de 14 anos imune ao fungo, que pode ser a chave para a cura. Tess se sacrifica após ser infectada, e Joel continua a jornada com Ellie. Ao longo do caminho, Joel desenvolve um vínculo com Ellie, lembrando-se da filha. Quando descobre que a cura exigiria a morte da garota, ele se recusa a permitir. Joel mata os médicos e foge com Ellie, escolhendo salvá-la em vez de permitir que ela seja sacrificada pela humanidade.
The Last of Us, é um jogo de apocalipse, contendo uma ambientação caótica e emocionante, fazendo com o que o jogador sinta a dor do luto do personagem principal, Joel, ao perder sua filha por militares. O clima catastrófico se alastra de maneira rápida pela cidade, devido ao surto de uma mutação do fungo Cordyceps, que começou a tornar as pessoas quase como zumbis, dizimando a nação, fazendo os poucos que sobreviverem quase enlouquecerem e perderem a confiança entre eles mesmos.
Para falarmos de crise climática fora da ótica capitalista, abordamos dois autores importantes, que nos trazem uma perspectiva de fora da hegemonia e dos olhares de mundo sujeitos pelo capitalismo. Num primeiro momento, iremos retomar aos jogos e depois vamos abordar o conceito de fim do mundo sobre a perspectiva de um descendente de povos que sofreram com o apocalipse, como o Ailton Krenak.
O jogo The Last of Us e Pathologic 2 foram as bases do nosso trabalho, a partir deles analisamos dois tipos de fim do mundo: um “natural” e sobrenatural e outro a partir de um vírus, melhor dizendo um fungo que já existe na vida real. Porém, por eles também buscamos encontrar diferentes tipos de fim do mundo, e a sua grande maioria em um ponto de vista capitalista, como Apocalipse zumbi que é demonstrado no próprio The Last of Us, Apocalipse da IA e robôs e entre outros diversos, todos em sua grande maioria sendo cenários impossíveis ou distantes demais da realidade para serem considerados reais. É possível considerar que já estamos vivendo um apocalipse agora, é notável a frequência de notícias sobre como o meio ambiente está sofrendo com nossas ações, mas a realidade parece difícil demais para se enfrentar, os jogos servem como uma maneira de nós sairmos da nossa realidade e esquecer que esse fim de mundo existe, porém, o que é o fim de mundo? Ele realmente já não aconteceu antes? Quando pesquisamos o fim do mundo é descrito como “Fim do mundo é um evento futuro hipotético que tem o potencial para prejudicar ou extinguir a humanidade e/ou qualquer outra forma de vida no planeta Terra”, mas isso já aconteceu, contudo em perceptivas diferentes para povos diferentes: os indígenas, foi um povo que passou pelo seu próprio apocalipse, Ailton Krenak descreve essa experiência em seu livro “A vida não é útil”, ele dita sobre como o capitalismo vem cegando o homem, e que em algum momento iremos perceber que não somos capazes de comer dinheiro, quando todos os recursos acabar, iremos perceber que o dinheiro não terá mais sua importância e como o fim do mundo parece próximo, Ailton Krenak (2020) cita sobre o “Deus dos brancos”, quando houve o dilúvio e Deus refez o mundo, seu discurso também fala como a vida não é mais útil como antes, ela tinha significado e agora não tem mais, o capitalismo fez que a vida perdesse sua utilidade e agora fosse algo automático, inventando coisas como “o agro é pop”, algo que mais prejudica a natureza do que ajuda.
Outra visão interessante a se comentar, seria a do Climatologista, Chukwumerije Okereke (2024). O qual aborda uma crítica poderosa sobre o conceito do capitalista dominante nas discussões sobre justiça climática, propondo alternativas como o crescimento verde e o degrowth, especialmente no contexto africano.
Em seu artigo Degrowth, Green Growth, and Climate Justice for Africa, Okereke (2024) analisa duas abordagens alternativas ao capitalismo global, o degrowth, traduzindo seria o decrescimento e o green growth, que seria o crescimento verde. Ele parte da premissa de que a África, apesar de contribuir pouco para as emissões globais, esse continente sofre, de maneira desproporcional, com os impactos da crise climática.
O degrowth, ele propõe reduzir o tamanho da economia global, consumo e produção, como forma de combater a degradação ambiental. Já no crescimento verde, green growth, o mesmo busca conciliar crescimento econômico com sustentabilidade, por meio das inovações verdes e da justiça social.
Okereke (2024) argumenta que embora o degrowth critique o capitalismo, e consequentemente, promova a justiça ambiental, ele pode ser inadequado para a África, onde há milhões de pessoas que ainda vivem na pobreza extrema. Defendendo, desta forma, um modelo de crescimento verde forte, que consiga respeitar os limites planetários, mas também promova bem-estar e equidade social, especialmente no Sul Global.






Ao praticarmos os jogos, o grupo considerou uma experiência divertida apesar dos jogos causarem ansiedade e desespero, em algumas cenas, devido ao seu cenário devastador, nesse contexto, pesquisamos sobre seus elementos apocalípticos, algo que nos levou a identificar temas como a destruição de uma civilização, a escassez de recursos, a presença de criaturas hostis e a luta pela sobrevivência em ambientes caóticos.
Entendendo que os jogos que contém no mercado podem potencializar um pensamento alienado, assim, esses jogos ao focar no entretenimento e na evasão da realidade, contribuem para o esquecimento dos problemas cotidianos. Logo, buscamos diante desse problema, formas de gerar novas visões e perspectivas a partir da prática destes jogos sobre o fim do mundo num contexto capitalista.
Também achamos importante observar as possibilidades de apocalipse na sociedade capitalista a partir de olhares tão distintos como os de Krenak e os de Chukwumerije Okereke. Os quais abordam contextos culturais e históricos profundamente diferentes, Krenak desde a cosmovisão indígena brasileira e Okereke desde a crítica africana ao desenvolvimento sustentável, no fim, acabam se unindo, quando o assunto é denunciar os limites éticos e ecológicos do capitalismo global.
DELFOS. Pathologic 2 está contra você. Delfos, 2025. Disponível em: https://delfos.net.br/pathologic-2-esta-contra-voce/. Acesso em: 5 jun. 2025.
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MAXMRM. THE LAST OF US PART I – JOGO COMPLETO em 4k 60fps (DUBLADO). YouTube, 2025. Disponível em: https://youtube.com/playlist?list=PLZIH5oHlUE7n7Wi3svYLMzoL-iu7Q-FCm&si=MtNSkuPKAcdBMsfA. Acesso em: 10 jun. 2025.
NERD MALDITO. Pathologic 2 – RPG psicológico de mundo aberto. Nerd Maldito, 2019. Disponível em: https://www.nerdmaldito.com/2019/06/pathologic-2-rpg-psicologico-de-mundo.html?m=1. Acesso em: 5 jun. 2025.
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KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.